O Comandante do Centro teve a preocupação de assegurar a todos os instrutores e monitores, uma correcta e adequada interpretação de qual a finalidade do Centro, da Missão dos Comandos, das suas caracteristicas e das principais componentes da Formação. Não era aceitável que houvessem interpretações diferentes,já que essa situação teria reflexos negativos junto dos instruendos. Assim, o Comandante do Centro elaborou e difundiu diversas directivas sobre esses assuntos, dirigidas aos instrutores e das quais registamos algumas:
-- Finalidade do Centro de Instrução
"Formação de Grupos de Combate que, com base em elementos seleccionados entre os mais aptos das Unidades em operações,apresentem no final da instrução uma mais cuidada como objectiva preparação e um espírito agressivo mas controlado, indispensável à execução de missões de maior risco ou dificuldade".
-- Missão de Comando
" Ataque a objectivos definidos, em proveito das tropas em quadricula e de intervenção, quer como processo de destruição inimiga, quer ainda como fonte indispensável de informações que possam nortear a actividade operacional daquelas tropas e também acções de caça nos sectores onde actuam".
-- Caracteristicas dos Comandos
" Elevada autonomia, rusticidade, resistência à fadiga, fragilidade e apurada técnica de combate"
-- Valorização fisica, Moral e Técnica do Instruendo
Os condicionamentos da Finalidade, da Missão, e das Caracteristicas da Tropa Comando impõem garantir ao Comando, as condições físicas, morais e técnicas indispensáveis más exigências enunciadas.
1ª Condição - A Valorização Física do Instruendo
" É evidente de que a fadiga pode ser utilizada como um poderoso meio educativo, que a fome, o desconforto, o medo, e a própria sêde podem ser meio de inestimável valor formativo ... deve pois o Instrutor ou monitor ser cuidadoso e criterioso na aplicação desses processos,doseando-os ao longo da instrução,de maneira que o instruendo vá, sem problemas de maior, vencendo essas dificuldades que de pequenas no início, irão aumentando paralelamente com a formação física do instruendo.
A Educação Física Militar deve ser dada com um aumento constante de esforço de maneira que gradualmente o instruendo vá ganhando resistências físicas que lhe permita executar sem dificuldade, longas marchas através da mata e de regiões alagadas, resistindo à fadiga e mantendo sempre em boas condições o seu Espírito Agressivo.
A Educação Física Militar deve ser sempre levada ao máximo no aspecto de emulação individual, pois será dessa emulação entre os instruendos que aparecerão aqueles que mais tarde terão possibilidades de serem os Chefes das Equipas".
2ª Condição - A Valorização Moral do Instruendo
"O simples facto do Instruendo ser seleccionado entre os mais aptos das Unidades em operações, cria nele uma ideia de superioridade que deve ser mantida mas corrigida e melhorada durante toda a instrução. Como Comando que será, tem de justificar a sua escolha e proceder com aprumo, lealdade e justiça, ser camarada e ter orgulho em ser Comando, mas nunca desprezar os seus camaradas que por razões várias não são comandos como ele.
A valorização moral do instruendo caminha paralelamente com a sua valorização técnica. Quanto melhor esta for, mais firme será a confiança em si próprio e nas suas possibilidades.
Deve ser tratado como um homem, largando-o nas suas iniciativas, mas incutindo-lhe sempre a noção de grupo ou equipa em que viverá e para a qual trabalhará; da sua capacidade de execução individual, irá depender o valor ou eficácia da equipa a que pertencer e que por sua vez influirá no entendimento do Grupo de Combate.
Assim os instrutores e monitores aproveitarão todas as oportunidades que se oferecerem no decorrer da instrução ou na vida do Centro para se avivarem os preceitos referentes à Educação Cívica e Moral do Soldado.
È de extraordinário interesse a provocar atender, nesta valorização moral, a aspectos de acção psicológica e de doutrinação dos instruendos. É necessário que cada Comando saiba:
--- a razão de ser da luta que trava;
--- os fundamentos da acção militar;
--- os fundamentos jurídicos e políticos da mesma luta;
---a negação do fundamento da acção inimiga;
--o descrédito do modo actuação inimiga-selvajaria.
Devem pois os instrutores aproveitarem todos os momentos livres, especialmente os de descanso para, reunido o seu Grupo de Combate, provocar uma conversa que interesse a todo o Grupo; permitindo a sua livre discussão, orientada é certo, e não só falando, mas muito especialmente fazendo falar. Devem lembrar-se sempre que para manter uma luta é necessário acima de tudo, uma consciencialização do procedimento".
-- 3ª Condição - A valorização técnica do Instruendo
È chamada a atenção aos instrutores e monitores para a necessidade excepcional de valorização individual do instruendo. A valorização técnica do instruendo está dividida, ao longo de oito (8) semanas de instrução, 3 Fases distintas:
1ª Fase - Instrução Básica
2ª Fase - Instrução Pré-Operacional
3ª Fase - Instrução Operacional
1ª Fase - Instrução Básica
"Nesta 1ªFase, quer as matérias incluídas no Programa, quer a forma de execução quer ainda o ambiente em que se administra, visam quase exclusivamente a educação individual dos aspectos morais e físicos e a melhoria da capacidade de execução.`
É nesta 1ªFase que se consegue, levando a instrução ao mais elementar pormenor, lançar as bases indispensáveis para o trabalho de equipa, que virá depois. Nesta 1ª Fase irão criar-se as condições indispensáveis para a descoberta e exploração de afinidades entre os indivíduos e que representarão as bases da constituição das pequenas equipas, como forma indispensável ao trabalho, ou à instrução de conjunto".
Após a 1ª Fase de valorização individual e encontrando-se as bases de trabalho em equipa, entra-se na:
2ª Fase - Instrução Pré-Operacional
(
"Nesta fase inicia-se a integração dos valores individuais no trabalho conjunto levado ao pormenor, ou melhor, ao quase automatismo.
Toda a instrução será levada ao mais pequeno pormenor, com exagero até, repetindo e fazendo repetir tantas vezes quantas as necessárias todos os exercícios para que os mesmos se executem com automatismo e sem a mais pequena hesitação.
Uma vez conseguidas as condições e satisfeitas as necessidades da 2ª FASE passa-se à:
3ª Fase - Instrução Operacional
Com esta fase dá-se início ao trabalho de formar os Grupos; esta última fase da formação dos Grupos, constituirá de facto o trabalho táctico me de coordenação das Equipas formadas.
Será nesta fase, que orientando e impulsionando os instruendos, se lhes proporciona o cunho pessoal e de livre iniciativa, tão necessária à forma de acção a que estar4ão ligados.
No final do Curso um COMANDO tem de ser uma MÁQUINA DE GUERRA PERFEITA; POIS DEPENDE DELE E DA SUA TÉCNICA DE GUERRILHA A SUA SOBREVIVÊNCIA; UM COMANDO NÃO ERRA; NUMA PALAVRA UM COMANDO É AUTO-SUFICIENTE.
(Texto tirado do Livro"resenha H.M.C.A.- Comandos-Os Grupos Iniciais - II GUINÉ 1963-1966)